As empresas, quando surge uma vaga, criam verdadeiros tratados de como essa vaga deverá ser preenchida. O numero de exigências aumenta constantemente. Ora! Se exige inglês fluente, outras vezes são apreciadas uma segunda ou terceira língua, MBA, mestrado, doutorado e todos aos “ados” que couberem na requisição. Pergunto-me, por quê? Realmente as empresas precisam disso ou a coisa se tornou um modismo?
 
Reflexão-1: Os departamentos de RH na verdade, são peças coadjuvantes nesse cenário empresarial, sua importância é restringida a meras rotinas “inúteis e burocráticas”. A real importância desse departamento deveria premiar uma visão estratégica na evolução do capital humano, o que alias é o componente mais importante de qualquer empresa.
 
Reflexão-2: Apagão! O que existe não é um apagão de profissionais, o que está acontecendo, na minha ótica, é que as empresas passaram a exigir em demasia para contratar as pessoas. O nível de exigência é tão grande que fica difícil supri-lo. O único apagão que tenho visto é na inteligência das pessoas que criam essas cretinices. O pior é que o povo que cria essas exigências normalmente está defasado (tecnicamente e culturalmente). Quando se consegue encontrar o tal “super-herói”, e ele chega para trabalhar, ele encontrará um bando de imbecis no comando; daí em diante já se pode ter uma ideia do final dessa historia.
 
O pior é que essa pessoa encontrada através de exaustivo processo de seleção adentra a empresa de maneira “iludida”. Imagina ele, que depois de tantas exigências vá encontrar um ambiente com alto grau de conhecimento, tecnologia abundante e repleta de funcionários qualificados. O susto normalmente é grande. O que nosso “herói” encontra de fato é um lugar desestruturado, arcaico, repleto de pessoas que mais parecem zumbis caminhando de um lado para o outro. Não quero fazer desse texto uma verdade incontestável, mas sim colocá-lo em aberto para análise de cada leitor, em outras palavras é apenas um texto para mera reflexão, nada mais que isso. Para ilustrar melhor a linha de pensamento veremos a triste história do Dr. Carlos.
 
Mal passou pela porta de entrada e Carlos, por um instante, trouxe a tona toda angustia daquele interminável processo seletivo. Foram dias e mais dias dedicados a lutar por uma vaga, entretanto, e tantos candidatos, por fim a sorte e o preparo haviam lhe sorrido. Entre muitas sensações, a que lhe trazia maior conforto era a de vitória. Sim, porque não? Ele era um vitorioso. Sua capacidade, autoestima e demais conhecimentos haviam sido colocados à prova. Balançando a cabeça como quem procura esquecer parou diante de Elaine, que com sorriso amável convidou-o a conhecer a empresa. Entre incontáveis apresentações e explanações finalmente o “Dr.Carlos”, como fora apresentado, chegou a sua mesa; tratou logo de mergulhar no trabalho. 
 
Com o passar dos meses Carlos começou a perceber que ele já não era tratado como o Dr. Carlos, já tinha virado o “Carlão” para alguns e para outros “Carlinhos” e houve ainda uma vez que ele estava dentro do banheiro e ouviu duas pessoas se referindo a ele como “Carlixa”. Por que o estariam chamando dessa forma? Ele havia estudado na Inglaterra por quase 20 anos, seu doutorado e o Pós-Doc tinham sido feitos com louvor, seus artigos científicos haviam rodado o mundo. Entre esses pensamentos desvaneceu-se o tempo e assim passou. 
 
A contratação do Dr. Carlos havia sido propalada em verso e prosa por toda a empresa - definido como um raro talento. Com o passar dos dias isso foi se perdendo. Quanto mais a intimidade com os colegas crescia, maior era o distanciamento dessa primeira visão. Não tardou para que o Dr. Carlos fosse contestado. As pessoas atribuíram-lhe a responsabilidade de determinar e traçar os caminhos da empresa; porém quando explanava suas opiniões logo era contestado. Alegavam seus interlocutores: dessa forma não é possível fazer - Assim não vai dar certo – A empresa não está preparada para isso – Não temos condições de arriscar.
 
No auge do desespero o Dr. Carlos, irrompe tempestuosamente: por que afinal das contas fui contratado!
 
Reflexão: Quando as empresas buscam os ditos “talentos” no mercado eles realmente estão atrás de pessoas capazes de lançar novo olhar sobre a empresa e sua conduta, ou estão buscando “milagreiros de plantão”, para solucionar e determinar novos “ganhos”.
 
A empresa é formada por um conjunto eclético de personagens, que por sua natureza cultural, crenças, valores, conhecimentos e credos vagam entre sentimentos, pensamentos e interesses distintos. Cada qual tem visão própria do que é o “certo” para a empresa, não agir assim demonstra fraqueza, colocando em risco o próprio futuro. Como causa natural todo recém-chegado é um perigo imediato, pois expõe a todos. Não se mudam os desejos ou as necessidades, mas as preferências das pessoas. Não se mudam os fatos, mas as interpretações. Não mudamos a capacidade de julgar das pessoas, monitoramos o processo de julgamento para esclarecer fatos, ideias e conceitos, para evitar conclusões errôneas, precipitadas, preconceituosas e desfavoráveis a um objetivo maior.
 
Mas a quem cabe esse papel de orquestrar todo o processo? A lógica indica de que deveria partir do alto corpo diretor, todavia a grande pergunta é: esse corpo tem o devido preparo? 
 
Dou fé que em minha trajetória profissional conheci verdadeiros “dinossauros”, eles contratavam pessoas para suprir suas falhas e jogavam em suas “costas” a responsabilidade daquilo que lhes cabia.

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