No começo dos anos 80, a SPAAL, distribuidora da Coca Cola em São Paulo, era meu cliente e o diretor dela se tornou meu amigo. As reuniões de negócios abriam a oportunidade de proveitosas conversas sobre vários assuntos. O relacionamento humano foi um deles. O diretor era tcheco, culto e politizado. Seu irmão, ministro do governo da Tcheco-eslováquia, socialista, alinhado com Moscou na época da Guerra Fria, mas que não era tão fria em Praga, pois fazia pouco tempo os tanques russos haviam avançado sobre as suas ruas e impedido o seu renascimento cultural e político, conhecido como “A Primavera de Praga”. Cito isto para afirmar a experiência de vida, de luta pelo poder, de uma vida difícil, e o nível cultural do meu amigo, o qual não compartilhava do mesmo entendimento que o irmão e me explicou suas razões da seguinte forma: “Quando a gente é criança e ainda não entende nada, mal sabe falar, já entende uma coisa primordial, que é a disputa por aquilo que nos cerca. É meu, É meu! Isto é dito desde cedo por todas as crianças. Por isto, não acredito no comunismo. Desejaria que fosse possível, mas é contrário à nossa natureza. Precisamos inventar soluções de convivência que combinem com a nossa natureza”.
 
Eu já ouvira todo tipo de explicação, a favor e contra, sobre o socialismo. Esta, para mim, foi a definitiva. E mais, é aplicável em todos os lugares habitados pelo homem. Inclusive nas empresas. É impossível evitar que os funcionários lutem pelo poder. É meu, é meu! Está no inconsciente. É Lei da Natureza. A primeira luta do homem é a luta do “Self”, de ser, de tornar-se, de reconhecer-se único, É uma afirmação imperiosamente necessária. Quem administra pessoas tem que reconhecer isto. Se reconhecer, tomará iniciativas para encontrar soluções de convivência onde todos possam ser quem realmente são, conheçam seus direitos e limites. Não se eliminará conflitos, pois são inevitáveis. Irá administrá-los. Minha experiência pessoal aponta no sentido de que pouco adianta a pirotecnia da motivação, esta que vive aos solavancos de altos e baixos e quase sempre termina em crise. A distância preventiva (dissimulada) adotada por uma porção de chefes, que evita a intimidade, evita também que chefes e subalternos se conheçam, dificulta a cooperação. 
 
A melhor solução é a da Compaixão. É estranho? Sim. Mas para quem acha que ter compaixão é ter dó, é sentir pena. Compaixão não é nada disto! Ter compaixão é sentir a dor do outro, colocar-se no lugar dele. Haverá outra forma de entender os outros? Não. Não há. Se você não for capaz de se colocar no seu próprio lugar (que é comum para quem fantasia muito) não será capaz de entender nem a si próprio. 
 
Minha experiência também sinaliza que a religião não é o caminho. Nas empresas de donos e chefes religiosos prega se a moral religiosa de quem manda, que nem sempre combina com a de quem obedece. Além disso, a contradição se expõe, pois enquanto a fé idealiza, o negócio pragmatiza. A melhor solução é a da Ética. Mas que ética? No Bate Byte há um texto escrito pelo Jefferson Carlos Martins e Manoel Flávio Leal, que vale a pena ser explorado. Em linhas gerais, eles explicam que a ética é um ideal de conduta que evoluiu com a civilização e que a ética social é inseparável da empresarial. Preocupações em relação à eficiência, competitividade e lucratividade não podem prescindir de um comportamento ético. Cada indivíduo tem o seu próprio padrão de valores. Por isso, torna-se imperativo que cada empregado faça sua reflexão, de modo a compatibilizar seus valores individuais com os valores expressos nos Princípios Éticos. 
 
Para fazer a reflexão orientada pelo Jefferson e o Manuel é preciso duas coisas: primeiro conhecer os princípios éticos (que devem ser permanentemente divulgados na empresa e em outros lugares); segundo, entender o outro, o que somente é possível se nos colocarmos no lugar do outro, sentirmos as dores que sente. Voltamos à compaixão. Não é à toa que o cristianismo e a maioria das religiões se apoiam neste princípio. Para entender e lidar com o que é meu, preciso entender e compreender o que é seu!

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