Que importância pode ter um papo de boteco? Senão a de “matar” o tempo com amigos é claro! Nenhuma! Diria a maioria. Porque, a priori, é a resposta mais óbvia.
Mas...
Como funciona? Imaginem a cena. Um grupo sentado discutindo as intermináveis diferenças de opinião sobre a escalação “ideal” da Seleção Brasileira, a competência ou incompetência deste ou daquele técnico de futebol, a necessidade de ter políticos mais honestos, sexo, religião, cultura, educação, sociedade, trabalho, empresas...
Os chamados “papos de boteco” podem ter, sim, enorme importância. Vejamos:

- Quantos problemas são levantados e “resolvidos” numa mesa de bar?

- Quantas “soluções maravilhosas” nascem após um gole de cerveja?

- Quantas ideias são discutidas e desenvolvidas a partir de um copo de refrigerante?

- Quantos projetos fantásticos são elaborados enquanto se mastiga um salgadinho?

Impossível quantificar, não?

Mas por que os papos de boteco não “sobrevivem” a uma boa noite de sono?

Resposta difícil? Claro que não! Embora muito próximo de zero, ainda podemos ver alguns casos de sucesso, como que saídos do nada para a realidade.

Alguns exemplos: A criação do Facebook, da Apple, da Microsoft e de centenas (ou milhares) jogos para videogames e aplicativos para celulares. Nossa tendência é de sempre “matar” os momentos agradáveis vividos, “esmagados” pela escova de dente ou “afogados” no último enxágue da boca, antes de dormir.

Penso que o grande desafio é manter vivos os papos de boteco. Colocar em prática aquilo que foi discutido e que gerou tantas alternativas de solução.

Talvez uma pequena “anotação” das ideias trocadas e a disposição de continuar raciocinando sobre um “tal” assunto relevante no dia seguinte, faça a diferença.

Muitos dirão, uma boa ideia pode nascer em qualquer lugar e situação! Isso é uma verdade, a lei da gravidade segundo contam nasceu da observação de uma maçã caindo, o velcro nasceu após um passeio pelo jardim, a caneta esferográfica foi idealizada durante um passeio de carroça cheia de batatas e assim tantos outros. A ideia do “papo de boteco” é puro referencial, convenhamos é mais charmoso.

Que vantagens eu vejo nesse tipo de encontro? Muitas! A começar pela sociabilização que proporciona. É importante interagir constantemente com as pessoas e de preferência, quando possível, que seja de: nível, cultura, conhecimento diferente dos seus. Somente se aprimora uma visão a partir do momento que ela possa ser testada ou colocada em xeque. Outra vantagem que gostaria de destacar é a da não competição, ou seja, o grupo participa das discussões por puro prazer do debate e não como defensores ferrenhos de uma posição, lógico que existem os “chatos de plantão” que sempre vão achar que a verdade nasceu com eles, para esses sugiro dar uns copos a mais, quem sabe mais “tontos” se calem. Como bem disse meu amigo (Carlos Felipe Chede), esse ambiente propicia ou favorece o livre pensar. É exatamente nesse item que está o segredo. As pessoas passam demasiado tempo focado em suas tarefas e passam com isso a não ver as coisas como elas realmente são. Acredito que há uma perda de senso de importância, agimos e reagimos de forma automática. Os dirigentes, gerentes, chefias em geral se tornam uma ilha isolada, perdendo assim a ligação com o continente.

Eu sempre gosto de contar, em palestras, a história do banheiro público. Do que se trata? Quando, e se alguém passou por essa situação há de lembrar que ao entrar pela primeira vez em um banheiro púbico a pessoa sente muitos odores, e isso é tão forte que a pressa de sair se torna quase um tormento. Mas se pegássemos essa mesma pessoa e a colocássemos lá dentro por um período de quinze dias, é garantido que ela não perceba mais esses odores com a mesma intensidade.

Por que isso acontece?

Porque você se acostuma com tudo, acredito que existe um processo interno de acomodação em cada um de nós. É mais fácil lidar com o conhecido. As pessoas por essência tem medo do desconhecido, pois ele traz em si a obrigatoriedade de ter que lutar para entendê-lo e isso cansa, traz incômodos entre outras coisas, por isso é mais fácil lidar com o “conhecido”. Já ouvi muitas histórias sobre o “impossível”, elas proliferam no meio estudantil e empresarial, como moral concluem que o impossível é questão de acreditar ou não. Portanto minha sugestão a todos os profissionais é: mudem de banheiro!  Vá sentir por aí outros odores, experimente, interaja mais, amplie sua visão, teste seus conhecimentos, seu talento, enfim saia dessa ilha que se tornou sua vida.

Já escrevi em outras oportunidades sobre o perigo de se ”encastelar”, os gerentes quase em sua totalidade agem dessa maneira, ficam presos a seus conceitos, crenças, habilidades e principalmente visão das coisas e suas extensões. Isso é um perigo para as empresas, visto que seu futuro é atrelado a capacidade de se recriar nesse mundo que gira cada vez mais rápido. Outro dia sai de um evento promovido por determinada empresa e que na visão deles é um sucesso, porém, todos os anos eu ouço a mesma conclusão; o evento foi um sucesso, todos gostaram muito, mas devemos pensar em melhorá-lo. Todo ano é a mesma “ladainha”. Mas, nada muda! Por quê?

Porque no dia seguinte todos se entregam as suas tarefas operacionais e o evento passa a ser uma mera lembrança, e assim se passam os dias até novo evento. O que fazer então? Para começar, definir prioridades, se o tal evento é tão importante então a lógica diz que deveriam se debruçar sobre ele enquanto as memórias ainda estão “frescas”. Outro detalhe importante é montar um grupo representado por todos que participaram a fim de ampliar o foco, em nada adianta jogar toda a responsabilidade em cima do departamento de marketing uma vez que o evento é da empresa. Por essa história aqui contada, faço um desafio a você caro leitor: quantas vezes em sua vida você presenciou reuniões desse tipo?

Meu amigo Carlos Felipe Chede vivenciou casos assim, por isso ele nos narra dois exemplos brasileiros vividos por ele:

O primeiro foi em 1980, na COPAS – uma indústria de fertilizantes. Nosso gerente (do Departamento de Sistemas) tinha por hábito promover duas reuniões todas às sextas-feiras. Na primeira, chamada “Reunião de Progressos”, ele ouvia os relatos dos líderes de projetos quanto ao desenvolvimento dos trabalhos, na semana. Já na segunda, após o expediente, ele convidava a todos os subalternos para “tomar uma” em algum boteco e anotava as ideias interessantes, para a empresa, que surgiam em meio às conversas e caipirinhas. Às segundas-feiras sempre havia algo novo para ser desenvolvido. E a empresa progredia com o apoio essencial do nosso departamento.

O segundo exemplo vem do Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, onde eu prestava serviços de consultoria e treinamento, em 1992. A Diretoria costumava trazer o “papo de boteco” para dentro da empresa promovendo uma “Happy Hour” com os funcionários, toda sexta-feira, mesmo em tempos “bicudos” (como eles diziam). Numa delas, no começo de julho, tive a felicidade de participar e também contribuir, tecnicamente, para o desenvolvimento e realização de uma “ideia maluca” - nascida entre um copo de uísque e um salgadinho – e pude testemunhar a enorme euforia dos leitores e uma das maiores vendas de jornal (com tiragens extras) na edição que mostrou, na foto colorida da capa, a imagem da Pira Olímpica, acesa pelo arqueiro, mostrada pela televisão apenas pouco mais de duas horas antes.

Dá para se ter uma noção do nível de engajamento e comprometimento de cada setor da empresa para tornar aquela “ideia maluca” uma realidade? Dá para imaginar os esforços individuais e conjuntos? Dá para avaliar a satisfação que cada funcionário sentiu?

Não vejo necessidade de escrever um “compêndio” ou um “tratado” sobre o que se pretende ou que se pode fazer a respeito disso ou daquilo nascido na informalidade.

Creio que bastam esses dois exemplos brasileiros para justificar a importância que pode ter um “papo de boteco” no sucesso (ou fracasso) de uma empresa.

O importante em minha opinião é raciocinar sobre o que foi conversado com os amigos no salão de sinuca, na lanchonete, no boteco ou restaurante e aproveitar suas opiniões.

Afinal, tudo o que temos são nossas meras opiniões!

Eu como meu amigo Chede, já passei muitas vezes por essa experiência, mas não vou contar aqui, a quantidade de vezes que isso aconteceu, mas vou colocar um exemplo atual que todos conhecem. Os hackers fazem isso a todo instante, quando tem alguma “missão” ou problema eles se unem em torno do mesmo objetivo e em poucas horas, quando não em minutos tem a solução, isso acontece porque o foco não se dispersa. São pessoas de todas as etnias, idades, cultura se colocando a disposição para pensar. Sim pensar! Essa é a palavra mágica. Pensar, pensar e pensar! Porém deve ser feito com foco, no mais é puro bate papo. Pense nisso!

Não devemos querer “impor ao mundo” nossas opiniões, mesmo porque elas podem e, na maioria das vezes, devem mudar. É preciso, apenas, dar mais um passo!Se não puder destacar-se pelo talento, vença pelo esforço”. Por: Antonio Palmieri e Carlos Felipe Chede

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